Em barco ‘raso’ e no escuro: conheça técnica de captura de jacarés na Amazônia


g1 acompanhou simulação exclusiva da captura realizada pelos jacarezeiros, que utilizam uma técnica com lanterna para ‘cegar’ temporariamente o animal. Captura de jacarés é feita á noite após as 19h em um barco ‘raso’
Emily Costa/g1 RO
Já pensou em entrar em um lago à noite, a bordo de um barco raso, com mais de 35 mil jacarés ao redor? Essa é a técnica utiliza pelos manejadores da Reserva Extrativista (Resex) Lago do Cuniã, situada no Baixo Madeira, em Porto Velho, para capturar o animal.
Conheça o único frigorífico do país com liberação para manejo de jacarés em área de reserva
O g1 embarcou nessa aventura e junto dos jacarezeiros (como são chamados os trabalhadores envolvidos no manejo dos jacarés) acompanhou uma simulação exclusiva da captura feita dentro da Resex.
Simulação de captura de jacaré na Resex Lago do Cuniã em Porto Velho
Segundo Naldo de Souza, morador e manejador há mais de 10 anos, revelou como funciona a captura do réptil:
🔍O abate geralmente ocorre após os meses de monitoramento, realizado entre junho e agosto.
⏰A captura ocorre somente durante a noite, após as 19h. Nesse horário, os jacarés sobem à superfície e fica mais fácil visualizá-los.
🚤 É utilizado um barco “raso”, para que seja possível colocar o animal dentro de forma mais ágil.
🔦 Na escuridão, os trabalhadores utilizam apenas uma lanterna para focar a luz nos olhos do jacaré e temporariamente cegá-lo, o que permite a aproximação para a captura.
🎯É lançado um cabo de aço com uma presilha de modulação para ajustar ao tamanho do pescoço do jacaré.
Manejadores realizam simulação de captura de jacaré no Lago do Cuniã
Emily Costa/g1 RO
Durante a simulação, os manejadores capturaram um jacaré da espécie açu, tamanho 2 (com menos de 2 metros).
Após vedar os olhos e boca do animal com fita e amarrar os pés, realizam a identificação sexual. Isso porque somente os machos podem ser abatidos. Se for capturada uma fêmea, ela é devolvida à natureza.
“Esse é um jacaré jovem e macho. O tamanho é ideal para o abate, tanto para carne quanto para retirada da pele, pois peles menores oferecem melhor qualidade”, explica Naldo.
Manejadores realizam captura de jacaré da espécie açu no Lago do Cuniã
Emily Costa/g1 RO
De acordo com Naldo de Souza, além da captura com cabo, é possível usar a rede, quando o nível do rio está abaixo do esperado.
Até o mês de agosto, a espécie não pode ser abatida, pois corresponde ao período de acasalamento.
“Após essa temporada, se o frigorífico possuir toda a documentação e certificação necessárias, juntamente com a cota anual de abate liberada pelos órgãos de fiscalização, podemos iniciar a captura” explica Naldo.
Somente os jacarés machos podem ser abatidos
Emily Costa/g1 RO
Durante o manejo, as equipes são compostas por quatro embarcações com quatro trabalhadores em cada, onde realizam a captura, medições e sexagem da espécie. A missão é trazer, em média, quatro animais em cada barco.
Após a captura, os jacarés são encaminhados vivos para o frigorífico e aguardam no “curral” até o amanhecer para um delicado processo de limpeza total.
Curral onde os jacarés vivos esperam para serem limpos e abatidos nos anos em que a captura é permitida.
ICMBio Cuniã-Jacundá/Divulgação
O abate ocorre com uma pistola pneumática específica para jacarés. Após o disparo na cabeça, o animal entra em estado inconsciente.
Jacaré capturado é devolvido para a natureza no Lago do Cuniã, em RO
Após a simulação feita pelos manejadores, o animal capturado foi devolvido à natureza.
Em 2023 o abate não foi autorizado, e o frigorífico não operou devido a problemas internos na Cooperativa de Pescadores, Aquicultores, Agricultores e Extrativistas da Reserva Extrativista do Lago do Cuniã (CoopCuniã), responsável pela execução e regularização do funcionamento do local.
Único com manejo de jacarés em área de reserva
O frigorífico foi desenvolvido dentro da reserva para manter o controle da espécies de forma sustentável e também incentivar o empreendedorismo coletivo dos moradores da comunidade, além de ajudar na segurança da comunidade, que convive com mais de 36 mil jacarés.
Frigorífico onde é feito o manejo do Jacaré na resex Lago do Cuniã, em Rondônia
Emily Costa/g1 RO
De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), todas as etapas, desde o manejo até a exportação da carne de jacaré são realizadas nas instalações dentro da reserva. Este é o único local legalmente autorizado a desenvolver essas atividades em uma unidade de conservação.
Moradores da comunidade trabalham com manejo de jacaré
ICMBio Cuniã-Jacundá/Divulgação
Os manejadores que trabalham no local recebem treinamento, principalmente em relação à captura, o que lhes permite adquirir um maior conhecimento sobre a espécie e desenvolver cuidados na interação com os animais também.
Implementação do manejo do jacaré na resex Lago do Cuniã, em Rondônia, se transforma em um produto fresco e pronto para ser consumido.
ICMBio Cuniã-Jacundá/Divulgação
A carne é vendida em embalagem de identificação do frigorifico em seis tipos de cortes: coxa e sobrecoxa, filé da calda, filé do lombo, lombo, ponta da costela e isca, e pode ser encontrada em supermercados do estado.
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