Venezuela x Guiana: Interesse da Rússia no conflito busca fragilizar a política externa dos EUA

Para pesquisador da USP Vicente Ferraro, ouvido no podcast O Assunto, tensão na América Latina desvia foco dos norte-americanos na Ucrânia e facilita avanços dos russos. O aumento da tensão entre Venezuela e Guiana devido à ameaça do governo de Nicolás Maduro de anexar a região de Essequibo ao seu território é de interesse da Rússia por fragilizar a política externa norte-americana. Esta é a avaliação de Vicente Ferraro, cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da USP, com foco em Rússia e Eurásia.
De acordo com o estudioso, que falou em entrevista ao podcast O Assunto desta segunda-feira (11), um eventual conflito na América Latina facilita a atuação da Rússia na Ucrânia.
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“Eu diria que o principal ponto de um interesse russo, talvez até em um conflito, está no ponto de que um conflito aqui traria uma divisão mais forte dentro da política externa norte-americana, no sentido de que a política externa norte-americana não conseguiria se focar apenas na Ucrânia, mas teria outros conflitos, outras tensões, para dividir o seu foco, então, isso enfraqueceria [a política externa norte-americana]”, explica Ferraro.
“Esses elementos de tensão tiram o foco sobre a Ucrânia, e isso acaba sendo benéfico para a atuação da Rússia na guerra contra a Ucrânia”, informa.
O cientista político informou que o que ele chama de “perda de foco” da política externa dos EUA começou já com o conflito entre Israel e Palestina. “O foco que estava todos concentrado na Ucrânia começa a ser dividido, e então esse apoio militar e econômico norte-americano começa a sofrer uma maior instabilidade.”
Conflito na América Latina – o interesse russo
Relação entre Venezuela e Rússia
No episódio desta segunda de O Assunto, Ferrari também fez uma retrospectiva da relação entre Rússia e Venezuela. Ele explicou por que a partir dos anos 2010 houve uma aproximação maior entre os dois países. “A Rússia começa aquilo que é chamado de projeção para um exterior distante”, disse. Desde então, Putin faz da Venezuela seu “principal instrumento geopolítico na América Latina”.
O cientista político também analisa como Putin e Maduro usam o “nacionalismo” e a presença de “inimigos externos” para conquistar apoio popular . O venezuelano deve enfrentar eleições presidenciais em 2024, e o russo anunciou recentemente que deve tentar mais um mandato à frente do Kremlin.
Vicente Ferraro avalia ainda o pedido de ajuda da Guiana aos americanos, que já realizaram exercícios militares dentro do território guianense. Ele afirma que o Brasil deve apresentar uma “posição mais enfática, pelas vias diplomáticas, mas nenhuma pressão militar”.
O interesse russo na Venezuela
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