Relatório de investigação da morte de fotógrafa de Cosmópolis é enviado ao Tribunal de Justiça e ao Ministério Público


A partir do documento, promotoria verificará se denuncia as suspeitas ou arquiva o caso. Fotógrafa Roberta Correa morreu depois de dar entrada em uma clínica de Cosmópolis para fazer procedimento estético
Arquivo Pessoal
A Polícia Civil enviou, nesta segunda-feira (11), ao Tribunal de Justiça (TJ) e ao Ministério Público (MP), o relatório da investigação do caso da fotógrafa e influenciadora digital Roberta Correa, que morreu em outubro após a realização de um procedimento estético em uma clínica particular de Cosmópolis (SP).
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As profissionais que realizaram o procedimento estético foram indiciadas na última quinta-feira (7) pela Polícia Civil por homicídio doloso (dolo eventual) e omissão de socorro. O procedimento foi realizado pela biomédica Vanuza de Aguilar Takata e pela esteticista Isabella Dourado Fernandes.
De acordo com o delegado do caso, Fernando Periolo, o relatório é um resumo do que foi apurado no inquérito policial que foi encerrado.
A partir do documento recebido, a promotoria vai verificar se arquiva ou denuncia as suspeitas para a Justiça. “E vai dar a tipificação dela, se culposo ou doloso (dolo eventual)”, explica o delegado.
Defesa
Na tarde desta segunda-feira (11), o g1 entrou em contato com a defesa das duas suspeitas.
A defesa da biomédica, Vanuza de Aguilar Takata, por meio do seu advogado João Paulo Sangion, afirmou que “apresentará suas considerações finais escritas ao MP sobre as diligências e provas produzidas, juntamente com um parecer técnico médico”.
Já a defesa da esteticista Isabella Dourado Fernandes disse que ela tem todas as habilitações para o procedimento e que ele é seguro, mas não está isento de riscos ou complicações. Disse, ainda, que Roberta preencheu a ficha de anamnese e informou que não tinha nenhum tipo de alergia. O advogado, Rodrigo Feitosa Lopes, informou que discorda da decisão do indiciamento.
“O relatório final da Autoridade Policial apresentou em apertada síntese, resumo dos depoimentos e mencionou os laudos, decidindo pelo indiciamento da Sra. Isabella, sem maiores esclarecimentos da sua convicção. No mais, a defesa respeitosamente discorda da decisão, as quais carece de fundamentação.”
A nota também diz que Isabella agiu de maneira ética e profissional, no exercício regular da profissão e “de modo responsivo e responsável.”
Fotógrafa Roberta Correa morreu depois de dar entrada em uma clínica de Cosmópolis para fazer procedimento estético
Redes Sociais
Familiares
Na última sexta-feira (8), o g1 conversou com os pais de Roberta, Roberto Correa, de 74 anos, e Vera Lúcia Ferreira Correa, de 71 anos. Ambos são aposentados, mas ainda trabalham.
“A justiça tem que ser feita, eu quero a justiça”, disse a mãe de Roberta.
Vera atua como berçarista em uma escola particular de Cosmópolis. O trabalho ajuda a lidar com a dor. Por isso, ela abriu mão dos dias de folga oferecidos pelo patrão.
“Ele ia me deixar até o fim do ano em casa. Falei ‘não, eu quero voltar, porque pelo menos aqui eu distraio com as crianças’”, diz. “Mas o pensamento está nela (Roberta), não adianta, a gente não tira”, relata.
Vera diz que a filha era muito alegre e que todo mundo gostava dela. “Sempre sorridente, eu nunca vi minha filha triste”, lembra.
“Eu não estou comendo, choro muito, estou indo no psicólogo. Acabou com a nossa vida”, lamenta Vera. “Todo mundo fala ‘vai passar’, mas, para mim, acho que não vai passar nada”, completa a mãe de Roberta.
Clínica onde Roberta Correa foi atendida fica no Spazio Di Bellezza Estevam, em Cosmópolis
Reprodução/EPTV
Mensagens de conforto
O pai de Roberta, Roberto Correa, conta que sofreu um AVC há cerca de dois anos e meio.
“Recuperei, ainda tenho algumas sequelas, de tonturas. Depois isso (morte da filha), não consigo nem ficar andando mais. Dá alguma coisa na cabeça da gente que balança tudo”, diz.
O pai de Roberta conta que, junto aos medicamentos que já tomava desde que teve o AVC, agora ele e a esposa tomam remédios para dormir.
“Se eu não tomar eu não consigo dormir, eu fico no sofá a noite inteira”, conta.
O eletricista conta que, o que traz um pouco de conforto à família é o carinho vindo pela internet de pessoas de diferentes partes do Brasil e do mundo.
“Recebemos mensagens de Londres, Japão, Espanha, Itália, todos procurando saber como está o caso, se resolveu. O Brasil inteiro, as cidades da região”, afirma.
Fotógrafa é socorrida em clínica após passar mal durante procedimento estético
Reprodução
Sem equipamentos básicos
De acordo com o delegado do caso, Fernando Periolo, o local onde foi feito o procedimento não era adequado. “Além de estar situado numa sala sublocada de um salão de cabelereiros, não tinha os equipamentos mínimos. Não tinha equipamento para medir a pressão arterial, um oxímetro, um estetoscópio, itens básicos de primeiros socorros”, diz.
Na avaliação do delegado, houve uma demora para identificar o que Roberta Correa estava sofrendo e abrir chamado para que socorristas levassem a fotógrafa até o hospital. “O que demorou não foi o socorro e, sim, o acionamento deste socorro”, afirma.
“Elas tomaram algumas medidas paliativas, achando que era um caso de menor gravidade, quando a pessoa já efetivamente apresentava sinais que já necessitava de um oxigênio ou alguma medida mais séria por parte de um profissional de saúde”, acrescenta Periolo.
Laudo aponta demora no atendimento como determinante para morte de fotógrafa em Cosmópolis
Entenda a cronologia do caso
Roberta Correa procurou clínica para fazer um endolaser, técnica para remover gordura localizada, mas passou mal e morreu.
Uma prima da vítima disse que, depois da anestesia, Roberta começou a sentir um calafrio, desmaiou e teve uma parada cardíaca.
Ela foi socorrida e levada para a Santa Casa da cidade, onde foi constatado que tinha tido ocorrido uma parada cardíaca. Cinco dias depois, teve morte cerebral.
Roberta era fotógrafa, trabalhava com comunicação e produção musical. Era conhecida na cidade e deixa dois filhos e o marido.
A clínica fica a cerca de 350 metros da Santa Casa de Misericórdia de Cosmópolis e a família diz que a biomédica demorou para pedir o resgate.
O local foi lacrado após constatação de que não tinha autorização para realizar o procedimento estético.
A Polícia Civil instaurou inquérito e o Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região (CRBM1) também apura o caso.
O CRBM1 informou que “não há registro de quaisquer irregularidades contra a profissional Vanuza de Aguilar Takata”, e que ela é biomédica regularmente, mas que vai seguir acompanhando o caso.
A responsável pelo imóvel onde ocorreu atendimento afirma que aluga ele para profissionais de beleza, incluindo a clínica, e que cada um é responsável por sua prestação de serviço.
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