A biografia do novo presidente da Argentina relata as excentricidades envolvendo conversas com um cão morto, clones e aproximação com a extrema-direita. O novo presidente da Argentina afirma que conversa com seu cachorro de estimação, que morreu em 2017
Tomou posse neste domingo (10), em Buenos Aires, o novo presidente da Argentina, Javier Milei. O que era até então um economista desconhecido, acabou virando figura central no país e já tem a sua própria biografia, lançada pelo repórter Juan Luiz Gonzáles, ainda sem publicação no Brasil.
O livro “El Loco”, ou “O Louco”, em português, já está esgotado em Buenos Aires e revela as excentricidades do novo presidente. Um dos temas mais conhecidos é do cão Conan, que já morreu, mas que seria uma espécie de guia espiritual do político.
“Milei deu centenas de entrevistas falando do Conan. De como passou dez natais e festas de Ano Novo sozinho com o cachorro. De como Conan era seu maior e verdadeiro amor. Construiu toda uma realidade que só existia na cabeça dele, porque fazia muito tempo que Conan tinha morrido”, conta o biógrafo.
Louco era o apelido de Milei em um colégio de classe média em Buenos Aires, onde, segundo a biografia, sonhava em ser astro do rock. Nunca fez amigos e sofria bullying pelo seu jeito esquisito. E de louco o chamam até hoje na política, principalmente os adversários.
Juan Luis Gonzáles, jornalista e biógrafo de Milei.
TV Globo/Reprodução
Como economista, tinha feito estágio no Banco Central, dado aulas em faculdade e trabalhado na iniciativa privada. As coisas começaram a mudar quando Milei começou a ter espaço em uma rádio.
“Lá por 1013, 2014, eu tinha um programa de rádio. Me ligaram de uma editora perguntando se eu poderia entrevistar um jovem economista que estava lançando um livro. Chamei, gostei, tomamos um café e comecei a convidá-lo toda semana”, revela o advogado Carlos Maslatón, que é um influenciador argentino.
Do rádio, os dois foram para internet e, por fim, um podcast que falava sobre economia e atualidades. Foi assim que Milei passou a ser uma pessoa conhecida.
Aos poucos, Milei começou a aparecer na mídia argentina.
TV Globo/Reprodução
Pouco moderado
O professor Mariano Fernández também era próximo de Milei nesse período e recorda que chegou a dar conselhos para o futuro presidente. “Eu o conheci faz uns 20 anos, quando comentei sobre um artigo dele sobre economia. Depois fomos nos aproximando e, quando ele ficou famoso, eu atuava como conselheiro, para ele se moderar um pouco”, recorda.
Os mais próximos perceberam as fixações de Milei pelo ultraliberalismo na economia e, na vida pessoal, pelo mastim inglês Conan.
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Esoterismo
Por causa de um problema com o Conan, Milei começou a buscar ajuda no esoterismo. Uma médica veterinária que diz ter o dom de falar com os animais foi fundamental para essa virada na vida do político.
“Ele me procurou por indicação de dois colegas veterinários. O cachorro dele estava bem doente. Milei queria que eu me comunicasse com Conan, para saber se estava bem, se estava sofrendo e se preferia passar por uma eutanásia”, conta a veterinária Celia Melamed ao Fantástico.
Celia Melamed, veterinária.
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Questionada sobre o que o cão teria respondido, Celia não revelou alegando “sigilo profissional”.
Ela também diz se comunicar com animais mortos. “É uma coisa esotérica. Não tenho explicação, sinto a presença do animal. É como se ele estivesse me contando como está agora. E como foi que morreu”, diz.
Depois de meses dessas consultas sem base científica com a veterinária, Milei subiu mais um degrau na sua obsessão pelo cachorro. Em maio de 2018, chegaram dos Estados Unidos seis clones de Conan, por um total de R$ 250 mil. Foram produzidos a partir de algum tecido do corpo do bicho que Milei tinha guardado.
Milei encomendou seis clones de seu cachorro, Conan.
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Um dos clones logo morreu. Dos cinco restantes, cães enormes com os quais dividia um apartamento de 100 m², Milei se convenceu de que um deles era a reencarnação de Conan.
Milei diz que se comunica com eles por telepatia e ainda recebe mensagens do Conan morto.
Viés político
Javier Milei, novo presidente da argentina.
TV Globo/Reprodução
Sobre a progressão política de Milei, o professor Mariano Fenández conta que assim que ele entrou, começaram a se aproximar figuras da extrema-direita. “Cheguei a me recusar a participar de um evento porque lá estariam um sujeito desses. Milei terminou o evento abraçado com ele”, conta.
“Pra mim, o liberalismo só existe com democracia e respeito aos direitos humanos”, argumenta Maslatón.
Atualmente afastado do grupo que o apoiava no início da carreira política, Milei não deu entrevista para a biografia.
“Foi depois que se afastou dos apoiadores mais antigos que Milei começou a falar em ser presidente. Dizia que recebia mensagens diretas de Deus para se candidatar. Não lembro de nenhum outro político em que o lado esotérico seja tão importante’, diz o biógrafo Juan Luiz.
Apesar do comportamento excêntrico nas questões pessoais e das alianças com extremistas, os primeiros movimentos de Milei como presidente eleito parecem dentro da normalidade na política. Fala em controle fiscal, tem seguido protocolos e enviou a chanceler ao Brasil, para uma aproximação.
Serão os conselhos de Conan, vindos do além, que deixaram o presidente conhecido como “O Louco” um pouco mais moderado?
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