Médicos relatam fraude em concurso para residência na Santa Casa de SP


Pacote de provas violado, tempo desigual entre candidatos e alternativa correta impressa em cor diferente estão entre as situações mencionadas. Responsáveis pelos exames ainda não se pronunciaram sobre as acusações. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Reprodução/FAVC
Médicos inscritos no concurso para residência em pediatria na Santa Casa de São Paulo alegam que houve fraude na aplicação do exame em uma universidade na Mooca, Zona Leste da capital, neste sábado (9).
Ao g1, uma candidata que prefere não ser identificada, relatou que o envelope com as provas foi entregue à sua sala em um pacote violado.
“Veio um coordenador, literalmente com o envelope de provas, o malete, aberto e falou: ‘gente, a prova está aberta. As duas fiscais irão conferir a quantidade e será entregue as provas normalmente’. Nisso, nós já ficamos todos indignados”, disse a moça.
Após uma contagem, as fiscais da turma constataram que 20 provas estavam faltando. Com isso, todos os candidatos da sala, que tentavam uma vaga na área de pediatria se recusaram a fazer o exame.
Alguns alunos deixaram o local de provas e foram até o 8º Distrito Policial (DP) do Belenzinho, onde dizem ter registrado um boletim de ocorrência.
Outros permaneceram na sala para saber que atitudes seriam tomadas pelo Instituto Mais, empresa responsável pela aplicação da prova.
“Das 8h até umas 11h20, vieram vários coordenadores com várias respostas, sem conclusões. Em nenhum momento se propuseram a anular a prova ou pediram desculpas”, contou a candidata.
“A diretora do Instituto Mais chegou por volta das 11h. Todos nós subimos e ouvimos a palavra dela. A prova se chama acesso direto e todas as especialidades têm acesso à mesma prova, mas ela especificou que somente a prova de pediatria seria anulada. E tudo foi registrado em uma ata e assinado por todos da sala. Porém, não temos fotos ou videos, tudo porque eles falavam que não podíamos abrir o celular dentro da instituição”, relatou.
Relatos de fraude em concurso da Santa Casa de SP
Reprodução/Redes Sociais
Candidatos que prestaram o exame em outra sala, no mesmo local de provas, também afirmam que o pacote das avaliações estava violado no momento em que foi entregue aos fiscais responsáveis.
Um relato sobre o ocorrido foi enviado ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, o Cremesp.
O Artigo 311-A do Código Penal classifica como fraude de concurso público os atos de “utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso”.
O g1 entrou em contato com o Instituto Mais e a Santa Casa de São Paulo, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) também foi acionada, mas não se pronunciou até a publicação desta reportagem.
Outros problemas
Outra candidata, que também prefere não ser identificada, relatou uma grande desorganização na aplicação do exame e diz que teve o tempo de prova reduzido devido à entrega atrasada das avaliações em sua sala, mesmo tendo direito a tempo adicional por condição especial de saúde, algo que foi especificado no momento da inscrição.
“Mesmo conversando com o coordenador, nada foi feito a respeito. Apenas me orientaram a abrir um recurso no site do Instituto Mais”, disse a médica. “Foi muito estressante.”
Além das 191 vagas oferecidas para 21 áreas diferentes na prova chamada “acesso direto” — voltada para médicos recém-formados —, o concurso ainda contava com 60 vagas para 29 especialidades, no modelo de “pré-requisito” — voltado para médicos que já realizaram alguma residência anterior.
Na prova de “pré-requisito”, candidatos apontaram que algumas questões estavam com as respostas corretas impressas em uma cor diferente, mais clara do que as demais alternativas.
A reportagem também questionou as instituições responsáveis sobre esses tópicos e aguarda um retorno.
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