Mensagens entre agiotas e devedores mostram ameaças de quadrilha nas cobranças em Franca, SP, diz MP


Cópias anexadas pelo Gaeco à denúncia aceita pela Justiça demostram violência e incluem conversa sobre uso de bomba. Segundo acusação, organização criminosa movimentou R$ 36 milhões em três anos. Operação Castelo de Areia em Franca (SP): no alto da esquerda para a direita, Ezequias Guimarães, Bruno Guimarães e Douglas Guimarães; embaixo, Leomabio Paixão, Evanderson Guimarães, Ronny Santos e Rogério Camillo
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Mensagens entre clientes e membros da quadrilha acusada de agiotagem investigada na Operação Castelo de Areia em Franca (SP) mostram ameaças de morte aos inadimplentes e a pessoas próximas a eles. Cópias das conversas, obtidas pelo Ministério Público com autorização da Justiça, foram anexadas à denúncia e, de acordo com os promotores de Justiça, comprovam a violência utilizada pela organização criminosa para reaver o dinheiro.
Pai, filho e sobrinho, considerados os chefes do esquema, e outras quatro pessoas são acusadas de movimentar R$ 36 milhões em três anos.
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Os juros abusivos cobrados nos empréstimos feitos pela quadrilha chegavam a 20%, de acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
As conversas aconteciam por meio de mensagens no WhatsApp e telefonemas. O sigilo telefônico do grupo foi quebrado pela Justiça.
Segundo consta na denúncia, a maioria das conversas mostra que os agiotas não tinham distinção na forma de tratamento dos clientes, independentemente do gênero. As cobranças eram sempre em tom ameaçador e com xingamentos.
Segundo o MP, conversas mostram que ex-policial civil usou bomba para intimidar cliente devedor em Franca, SP
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Em uma das conversas com o ex-policial civil Rogério Camillo Requel, uma cliente escreve sobre uma bomba que os agiotas teriam jogado na casa da mãe dela. A resposta na sequência é “paga o dinheiro e já era”. Em outro trecho, o grupo admite ter usado um explosivo contra um devedor.
De acordo com a investigação do Gaeco, além de contribuir com os empréstimos da organização, Rogério usava o cargo que ocupava na Polícia Civil para ter informações privilegiadas sobre os “clientes”, como documentos pessoais.
Não só o ex-policial tinha a função de ameaçar nas cobranças. Em uma das interceptações telefônicas feitas pelo Gaeco, o empresário Evanderson Guimarães é alertado sobre uma cliente que estava devendo cerca de R$ 40 mil para o tio dele, Ezequiel Guimarães, e que não teria o dinheiro para quitar o débito.
“Pela alma da minha filha, me paga esse dinheiro até amanhã meio-dia, só isso que eu vou te pedir. Você pode ir em polícia, você pode ir no Satanás. Se você nunca viu o demônio na sua frente, amanhã você vai ver. Eu estou num ódio de você, se eu tivesse pessoalmente com você, você ia ver só”.
Apontado com um dos líderes da quadrilha, Ezequias Guimarães também ameaçava seus devedores.
Segundo o MP, conversas comprovam violência empregada por quadrilha de agiotas em Franca, SP
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Durante conversa telefônica com uma mulher, que diz não ter o dinheiro para pagar a dívida do irmão, ele fala “eu vou descer com a minha tropa, e vou pegar o seu irmão, ele vai ter que me pagar, nesse endereço da sua casa”.
Em outra conversa, o Gaeco interceptou Ronny Hernandes Alves dos Santos fazendo graves ameaças a uma mulher, também sem dinheiro para pagar o que teria pegado emprestado.
“Como você foi lá pedir dinheiro pra ele, sabendo que você já devia nós. Ele nem comunicou que te emprestou, agora que eu fiquei sabendo”. A vítima diz que vai ligar para uma terceira pessoa quando Ronny ameaça. “Foi você que pegou, você está caçando um jeito de sumir com você do mundo, né, você está levando de brincadeira, você vai ver como funciona”.
Policial Civil Rogério Requel é um dos suspeitos de agiotagem em Franca, SP
Reprodução/ Rede social
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O que dizem as defesas dos réus
Segundo a acusação, os lucros obtidos com as cobranças eram reaplicados no esquema ou então destinados para a abertura de empresas de fachada, na compra de veículos e imóveis, como forma de lavagem de dinheiro. Nas redes sociais, alguns dos envolvidos ostentavam uma vida luxuosa, incompatível com a atividade profissional desenvolvida.
Os lucros obtidos, de acordo com a Promotoria, eram reaplicados no esquema ou então destinados para a abertura de empresas de fachada, na compra de veículos e imóveis, como forma de lavagem de dinheiro.
Evanderson Guimarães é investigado por suspeita de participar de quadrilha de agiotas em Franca, SP
Reprodução/Instagram
Os sete investigados viraram réus na ação e tiveram a prisão temporária convertida em preventiva. De acordo com o promotor Rafael Piola, a prisão preventiva do grupo é necessária devido à “existência de perigo contemporâneo, real e concreto” oferecido pelos denunciados.
Desde que a Operação Castelo de Areia foi deflagrada em Franca, o Gaeco e as polícias Civil e Militar foram presos:
Evanderson Lopes Guimarães
Douglas de Oliveira Guimarães
Ezequias Bastos Guimaraes
Bruno Bastos Guimarães
Leomábio Paixão da Silva
São considerados foragidos:
Ronny Hernandes Alves dos Santos
Rogerio Camillo Requel
Ao g1, a advogada Eliane Zola, que defende Ezequias, Bruno e Leomábio, disse que os clientes são empresários e foram surpreendidos com as acusações criminosas, segundo ela, inexistentes.
“Não existem provas robustas que corroborem com as condutas ilícitas a eles imputadas. Os fatos serão esclarecidos”.
O advogado Rafael Garcia Spirlandeli, que defende Douglas de Oliveira Guimarães, informou que o cliente é inocente e não tem nenhum vínculo profissional com os outros réus.
“Não foi feita a busca e apreensão no imóvel sede da empresa de Douglas. Lá estava toda a verdade, que infelizmente não foi buscada, mas será apresentada pela defesa no momento oportuno”.
O g1 tentou contato com os advogados de Evanderson e de Rogério, mas até a publicação desta reportagem, não retornaram as ligações e nem responderam as mensagens.
Já Ronny Hernandes Alves dos Santos ainda não instituiu defesa no processo.
Operação Castelo de Areia prendeu suspeitos de fazer parte de quadrilha que praticava agiotagem em Franca, SP
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Evanderson Guimarães é investigado por suspeita de participar de quadrilha de agiotas em Franca, SP
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