Idosa monta presépio há mais de 70 anos e comemora tradição viva na família: ‘É uma alegria só’


Maria Araci Peres Blumtritt, moradora de São Paulo, conserva presépio de Natal que começou com a mãe em 1942; são cerca de 300 peças colocadas na sala da casa durante o fim de ano. Maria Araci Peres Blimtritt tem presépio há 81 anos
Paola Patriarca/g1
O cuidado ao colocar peça por peça para transformá-las em um presépio de Natal cheio de detalhes na sala da casa já faz parte da rotina da Maria Araci Peres Blumtritt, moradora de São Paulo, há 81 anos.
Ao g1, a idosa, de 83 anos, contou que tudo começou quando a mãe dela, ao ficar viúva em 1942, fez uma promessa de que montaria o presépio todos os anos com os quatro filhos. Na época, Araci tinha dois anos e já se encantou ao ver as primeiras peças, que representavam José, Maria, os três reis magos e o menino Jesus.
Contudo, quando Araci tinha 12 anos a mãe faleceu. O presépio, então, ficou por um tempo com a irmã. Sete anos depois, ela decidiu que ia continuar o legado quando soube que ele seria descartado.
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“Quando mamãe morreu, o presépio ficou por um tempo com minha irmã. Anos depois, quando eu estava com 19 anos, soube que ela iria descartá-lo, falou que dava muito trabalho. Eu fiquei indignada e falei que era meu e não devolveria mais. Eu tenho muito apego a ele”, afirmou.
“Peguei e ficou comigo. A primeira vez que montei, eu o coloquei em duas cadeiras em uma tábua. Era pequeno, não tinham muitas peças, mas elas ficaram apertadinhas. Quando casei meu marido abraçou nosso presépio e foi crescendo e até hoje está aqui comigo”.
Maria Araci Peres Blimtritt com a bisneta
Arquivo Pessoal
As primeiras peças compradas pela mãe no Centro de São Paulo ainda permanecem intactas. Araci ressalta que fez questão de preservá-las.
“As primeiras foram a choupana, Jesus, Maria, José, anjo, cavalinho, vaquinha, cinco carneirinhos e os três reis magos. Depois ela foi comprando os castelos, reis magos no camelo e o pocinho. São várias peças que eram dela que temos aqui ainda. Tem a entrada de Belém, a ponte, tudo que pertencia a ela”.
Peças de presépio de Natal de Maria Araci Peres Blimtritt
Paola Patriarca/g1
Questiona pela reportagem se tem alguma peça especial, Araci não demorou para responder: “Tem. É o meu carneirinho. É o carneirinho mais pequenininho no presépio. Sempre foi o meu querido desde que me conheço por gente. É a peça que mais me apeguei”.
“Gostar gosto de todas, mas carinho é dessa. Dez anos atrás achei que tinha perdido ele e fiquei arrasada. Mas aí, encontrei no embrulhos e foi uma alegria só”.
Primeira peça do presépio de 81 anos; carneirinho é o preferido de Maria Araci Peres Blimtritt
Paola Patriarca/g1
Ao longo dos anos, o presépio que acumulando mais peças e hoje tem cerca de 300. Para Araci, elas representam sua conquista, que foi de manter a tradição assim como sua mãe desejava.
“Todos da família têm muito carinho e amor no presépio. Eles deixam para eu montar porque sabem do meu amor. Até minha bisnetinha já ajudou a colocar as pecinhas e elas pertencem a todos nós. Confesso que eu não imaginava nem eu chegar aos 80 anos. Eu sempre fui fazendo com amor e carinho, e está com a gente até hoje. Uma alegria só”.
Montagem
Maria Araci Peres Blimtritt
Paola Patriarca/g1
A montagem do presépio é feita em um canto da sala da casa e demora de três a quatro dias. As peças, guardadas em um baú durante o ano, são retiradas sempre no começo de novembro.
“Sempre em novembro para ficar mais tempo com a família. E aí, ele fica até janeiro. Tiro tudo do baú, coloco no sofá, mesa e vou colocando as peças. Começo pela choupana e de lá eu vou vindo. Aí faço o rio, ponte, entrada e vou colocando os castelos, que são peças que ficam em cima das pedras. Estou com dificuldade de alcançar, porque a idade é grande. Acho até que ano que vem vou pedir socorro”.
“A tradição da família é que cada um que vai chegando vai colocando um rei mago do tempo da minha mãe. Eu os deixo [peças de reis] separados”.
Presépio de Natal em SP
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Elaine Catarina Blimtritt Goltl é a filha mais de Araci. Ela conta que cresceu em meio a tradição de montar o presépio todo ano. Por isso, ressalta que não consegue se imaginar em outro tipo de celebração do Natal e já prometeu que irá continuar com o legado.
“Crescer com essa tradição trouxe sentimentos muito bons, de que sempre tem algo melhor para vir, sempre com coisas positivas e é isso que a gente tenta passar. Fora a união da família, porque nos uníamos para montar”.
“Quando eu e meu irmão éramos crianças, a gente abria as caixas e montávamos juntos. A gente só consegue entender a importância quando vai criando maturidade. Aí você tem entendimento do significado dele”.
E para esse Natal, o que não vai faltar é o amor pela tradição. “Todas as pecinhas têm sua história, todas tem o significado. Eu vejo muito religiosidade nele. Sou muito apegada nele religiosamente, porque ele mostra que o principal mesmo é comemorar o nascimento de Jesus. O presépio é uma grande cidade celebrando a vinda dele”.
Presépio de Natal é montado há 81 anos na família de Maria Araci Peres Blimtritt
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Maria Araci Peres Blimtritt tem presépio há 81 anos
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Maria Araci Peres Blimtritt
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Maria Araci Peres Blimtritt tem presépio há 81 anos
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